O nosso post de hoje foi escrito pela Rebecca Celso, que gentilmente se ofereceu para escrever um texto contando sobre a Broadway 😉
Segue o texto na íntegra (sem nenhuma alteração):
… no mesmo ano? É, na média, deu um por mês. E eu nem moro nos Estados Unidos!
A maioria das pessoas está começando a descobrir o teatro musical agora. Muitos detestam e acham brega. OK – eu sou brega. Adoro musicais, desde criancinha. Aliás, estou no processo de começar a escrever meu primeiro musical. Então baixo e leio scripts de musicais, ouço CDs de musicais e vejo muitos, muitos musicais mesmo. Em 2014 resolvi chutar o balde e viajei duas vezes para New York, indo ao teatro praticamente todos os dias que estive lá. O resultado? Uma dúzia completinha de shows assistidos na Broadway (e tenho os programas para provar).
Começando pelos que não estão mais em cartaz, e ainda por cima, por uma peça que nem era musical: “Of Mice and Men” (Ratos e Homens, na tradução brasileira) é um clássico do americano John Steinbeck, um dos maiores romancistas do século XX. Contava a história da amizade entre o esperto George e o infantil – e eu diria quase autista – Lennie… mas, enfim, era um espetáculo de teatrão mesmo. O que me fez correr e comprar o ingresso, fora a oportunidade de assistir a uma encenação de Steinbeck na língua original, foi o elenco estelar: James Franco (“127 Horas”), Leighton Meester (“Gossip Girl”) e meu querido Chris O’Dowd (“Missão Madrinha de Casamento”, na falta de uma referência melhor), que arrasou como Lennie! A multidão se aglomerava todos os dias na saída do Longacre Theatre para ver passar o James Franco (especialmente jovenzinhas apaixonadas pelo galã. Acho que a maior parte nem via a peça). Valeu a pena? Sim, claro. Mas certamente as agendas hollywoodianas do trio principal não permitiram que a temporada fosse muito longa.
Outro que saiu de cartaz (mas este eu acho que ficou bastante tempo) foi “Bullets over Broadway”, escrito por Woody Allen. Uma fofura de espetáculo, com números de sapateado, gângsters, coristas de biquíni, letreiros luminosos, plumas, tudo aquilo que se imagina num musical tradicional. Me parece que não foi um grande sucesso, principalmente considerando os 14 milhões de dólares da produção, mas eu recomendaria a quem quisesse um entretenimento leve e gostoso. Em todo caso, o filme (“Tiros na Broadway”, de 1994) pode ser visto por quem quiser conhecer a estória.
No mesmo teatro (St. James Theatre) agora, tem – só até dia 04/01 – o revival de “Side Show”. A inacreditável história real das gêmeas xifópagas Daisy e Violet Hilton, que fizeram carreira artística nos anos 30, é vivida por duas atrizes supercompetentes (Emily Padgett e Erin Davie). O elenco todo, para falar a verdade, é um show à parte e interpreta números preciosos. Cenários e figurinos também são lindos. É difícil ter que dizer que este foi o musical que menos me arrebatou na minha “temporada 2014″… Explicarei em outro post.
Por falar em janeiro, um espetáculo que não vai encerrar a temporada nesse período, e sim trocar pela terceira vez de protagonista, é “Hedwig and The Angry Inch” (prêmio Tony de melhor revival de 2014). Com apenas dois atores e uma banda em cena, eu o classificaria de ópera-rock. Narra, em primeira pessoa, as aventuras fictícias de uma compositora transsexual da Alemanha Oriental. Assisti em julho com Neil Patrick Harris (de “How I Met Your Mother”). Depois disso, suas plataformas douradas calçaram o ator Andrew Rannells, estando agora nos pés do “Dexter” da televisão Michael C. Hall, e – daqui a poucos dias – devem voltar para o próprio autor da peça, John Cameron Mitchell, o(a) Hedwig original dos palcos e das telas. Vale a pena para quem curte um som e um visual mais pesado de ‘glam rock’ dos anos 80. E é muito importante acompanhar as falas e letras de música, ou corre-se o risco de não entender nada.
Ainda na categoria dos melhores revivals, tive a graça de ver “Pippin” (que ganhou o Tony em 2013). Uma festa de encher os olhos com príncipes, reis, bailarinas, malabaristas, e um enredo de amor fofo. Este vale para levar crianças maiores – porque, sinceramente, as pequenas não têm estrutura para acompanhar uma peça de duas horas e meia, sentadinhas, quase direto – lembrando que menores de 4 anos não são permitidos no teatro; além do quê, todos pagam ingresso inteiro. Vale também para quem gosta de observar bastidores de teatro: a precisão das mudanças no palco é algo impressionante.
Crianças de todas* as idades (em especial as meninas) vão amar “Cinderella” de Rodgers e Hammerstein. É o conto clássico da princesa, com valsas, vestidos de baile e carruagens de abóbora. Mas não se engane, você adulto(a), há detalhes que ninguém espera nesta versão da estória. Preste muita atenção às trocas de roupa da protagonista e da fada madrinha, e me conte se descobrir como são feitas.
(* De novo, o teatro só aceita a entrada de espectadores a partir dos 4 anos de idade.)
Talvez eu tenha mesmo algum assunto não resolvido na infância, porque o musical que mais me impressionou neste ano foi “Matilda”. O livro, conhecidíssimo pelas crianças americanas, é do mesmo autor da Fantástica Fábrica de Chocolate (Roald Dahl). A personagem principal é uma garotinha de 5 anos (as miniatrizes que se revezam no papel são um pouco mais velhas, claro), e o adjetivo “extraordinária” aqui faz todo o sentido… Matilda coloca os adultos em seu devido lugar. Destaque master-blaster com cinco estrelinhas para o elenco infantil. Coreografias, cenário, figurinos, efeitos especiais, interpretações, é tudo primoroso! Mas acompanhar a estória em inglês faz uma grande diferença.
Quem se vira bem no inglês pode também curtir a comédia “A Gentleman’s Guide to Love and Murder”. Com uma trama divertida e cheia de personagens extravagantes – os herdeiros da família D’Ysquith -, ganhou o prêmio Tony de melhor musical de 2014. Jefferson Mays (por motivos óbvios a quem for assistir a essa peça) foi eleito o melhor ator do ano na mesma premiação.
Outra comédia, e essa está fazendo sucesso há anos, é “The Book of Mormon”. É uma sátira escrachada à religião, dos criadores do desenho South Park (um campeão do gênero politicamente incorreto). Se achar que não se deve fazer piada com alguns assuntos, não vá. Simples assim. Mas eu adorei! Ganhou o Tony de melhor musical de 2011.
A história de Frankie Valli e os Four Seasons (aquele grupo vocal dos anos 60-70) está retratada em “Jersey Boys” (considerado o melhor musical de 2006). A peça, aliás, foi que deu origem ao filme dirigido por Clint Eastwood este ano. Levei meus pais. Após assistirmos às duas versões, concordamos que a dos palcos é melhor. Prepare-se para dançar na cadeira, mesmo que você não tenha vivido na época do grupo.
Um que começou temporada há pouco, mas está bem recomendado, é “The Last Ship” – composto por Sting com base em suas memórias no litoral da Inglaterra. A trama é envolvente e as músicas são belíssimas, em alguns momentos remetendo ao som da banda The Police e, em outros, apresentando uma sonoridade mais típica de teatro musical. O bônus fica por conta do próprio Sting, que lidera o elenco até o próximo dia 24/01. Meu bônus pessoal foi conseguir, aos 45 minutos do segundo tempo, uma pulseirinha para entrar na sessão de autógrafos do CD, com o compositor e seis dos atores principais. Sim: eu ganhei um sorriso, um apertinho de mão e um autógrafo do Sting!
Agora, quem quiser ver o musical mais clássico dos clássicos não pode perder “Les Misérables”… uma peça inteiramente cantada, contando a estória (do livro de Victor Hugo) de Jean Valjean na França do século XIX. Está em cartaz desde 1987, quase sempre lotado. A nova montagem tem cenários em projeção 3D, o que dá uma dimensão diferente a algumas cenas. Já assisti oito vezes e me emocionei em todas. O ator/cantor Ramin Karimloo é um fenômeno, e leva o personagem do início ao fim com uma energia constante.
Como disse antes, sou uma apaixonada pelo gênero. Espero ter dado dicas interessantes, e não só para os loucos como eu.
De um modo geral, todos os ingressos são bem caros (e criança não paga meia!), mas eles podem ser comprados, no dia da apresentação, com um bom desconto nos centros da TKTS, em três localidades de NY. Ou então, com cupons distribuídos na rua e em sites como Playbill, Theater Mania e Broadway Box (cambista nem pensar, alguns chegam a cobrar 1000 dólares por uma entrada!). É só ficar esperto, que dificilmente se paga o preço cheio”.
Eu adorei o texto. E vocês? Comentários são sempre bem-vindos e, por isso, aguardo o seu 😉
PS: Segue abaixo uma lista com os links das peças citadas pela Rebecca